Unico SENHOR E SALVADOR

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domingo, 27 de abril de 2014

A predestinação bíblica: coerência e verdade




Em todo o contexto das Escrituras – Antigo e Novo Testamentos – há declarações fortíssimas convergindo para uma só e soberana Verdade: Deus concebeu e executou um fantástico Plano de Salvação, incluindo, potencialmente, a humanidade inteira!

No limitado, mas valioso espaço de que dispomos aqui, tomaremos, para comprovação do que temos afirmado, algumas passagens de ambos os Testamentos:

•Ezequiel 18.23: “Desejaria eu, de alguma maneira, a morte do ímpio? – diz o Senhor Jeová. Não desejo, antes, que se converta dos seus caminhos e viva?”

•Isaías 55.1,7: “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço
, vinho e leite. [...]. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.”

•Evangelho segundo João 3.16-17; 6.51: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. [...] Eu [Jesus] sou o pão que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.”

•Atos dos Apóstolos 10.34-35: “E abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e obra o que é justo.”

Prova insofismável de que Deus não privilegia alguns encontra-se no ministério de Jesus Cristo, que é “a expressa imagem da sua pessoa” (Hebreus, 1.3).  Na verdade, sendo a revelação humana do Ser espiritual de Deus, Jesus compadeceu-se das multidões, e não apenas de alguns em meio à massa. Mateus escreveu: “E saindo Jesus, viu uma grande multidão e, possuído de íntima compaixão por ela, curou os seus enfermos” (Mt 14.14).  Confirmativamente, Marcos registrou: “E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6.34).

Importa considerar-se que Deus não fez o homem como um robô, mas como um ser moral, livre para escolher seus posicionamentos. Um ser inteligente, inserido num contexto existencial regido por um princípio de responsabilidades, no contínuo processo de causas e efeitos. Ilustra bem isso, certo comportamento do personagem bíblico Esaú: fora programado para ele o direito de primogenitura (Gn 25.31), porém, Esaú não se beneficiou de tal direito, porque não o quis.  Amou mais um prato de lentilhas do que o importante privilégio destinado a favorecê-lo.  Usando o seu livre-arbítrio, “desprezou Esaú o seu direito de primogenitura” (Gn 25.34).

De semelhante modo, a salvação, provida graciosa e potencialmente para todos, só se efetiva na vida daquele que a quiser; daquele que se reconhecer perdido espiritualmente e aceitar a Graça de Deus para salvá-lo, com a mínima condição requerida: que creia na absoluta eficácia do Sacrifício que Jesus Cristo fez em seu favor, para a eterna absolvição de sua alma diante do Tribunal de Deus.  Está escrito:

•Evangelho segundo João 3.18,19,36: “Quem crê nele [Jesus Cristo] não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. [...] Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele.”

Sobre a fundamentação bíblica que temos invocado, consideremos a seguinte palavra do apóstolo Paulo aos Romanos: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. Porque, aos que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E, aos que predestinou, a estes também chamou; e, aos que chamou, a estes também justificou; e, aos que justificou, a estes também glorificou” (Romanos, 8.28-30).


Reflitamos sobre a afirmação “aos que dantes conheceu, também os predestinou”. O que se diz aí?  Claramente, isto: que a predestinação é consequência de um pré-conhecimento.  Trata-se, pois, de uma “pré-visão”, e não de uma “pré-determinação”.  Ou seja, em sua onisciência, Deus teve conhecimento de todas as pessoas que iriam usar o seu livre-arbítrio para aceitarem o Caminho da Salvação – Jesus Cristo –, provido por Ele.  Diante disso, alistou-as para serem chamadas, justificadas e glorificadas. Assim, mediante a previsão, operou-se a prévia destinação.  Jesus foi claramente incisivo em seu ensinamento salvífico: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João, 14.6).

Entender que Deus escolhe uns e rejeita outros, pura e simplesmente, porque é soberano – é não discernir a santidade da soberania divina. Afinal, Deus, que condena a acepção de pessoas, faria o que condena?  Pois está escrito: “Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como transgressores” (Tiago, 2.9).

Rejeitar-se a ideia da predestinação fatalista é uma questão impositiva a todo cristão sinceramente interessado pela Verdade das Escrituras.

Poder-se-á, contudo, objetar: E as afirmações do apóstolo Paulo em sua epístola aos Romanos, no trecho englobado pelos versículos 6 a 33 do capítulo 9?  O que fazer com a questão dos gêmeos Esaú e Jacó, e do endurecimento de Faraó, e dos vasos para honra e para desonra?

Eis a resposta:

O mesmo Paulo, que faz as referidas colocações teológicas, é categórico em afirmar, noutra epístola: “Porque isso é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1Timóteo, 2.3-4).

O que afirma Paulo? “Deus, nosso Salvador, quer que todos os homens se salvem”.  Todos os homens!  E não uma casta de privilegiados!

Paulinamente, “que diremos, pois?” Sim, que diremos, pois, a estas coisas?

Com sensatez e coerência, isto: se Paulo estivesse, no citado trecho de sua epístola aos Romanos, defendendo a predestinação fatalista – aquela que acata a ideia de que, estando perdidos todos os homens, Deus escolhe uns e rejeita outros, porque é soberano – só haveria uma forma de colocar a questão: Paulo estaria contradizendo-se e contrapondo-se ao macrocontexto das Escrituras.

Conclusão: não é possível ser essa a posição do Apóstolo.  Na verdade, o que se tem aí é um daqueles “pontos difíceis de entender” aos quais se refere o apóstolo Pedro, em sua segunda epístola universal: “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos [...] torcem” (2 Pedro, 3.15-16).

Ora, pontos difíceis, mas não impossíveis de entender!  O que se requer, para um entendimento correto dos tais pontos, particularmente deste que temos abordado, é uma exegese douta, como diria Pedro, isto é, uma interpretação sábia, dirigida pelo Espírito Santo, capaz, então, de atinar com o verdadeiro sentido das afirmações paulinas; sentido respaldado pela coerência interna das Escrituras.

Coerência!!! É impositivo considerar-se que, na mesma epístola aos Romanos, em que se encontra o texto áureo da doutrina salvífico-predestinista, acima referido (Rm 9.6-33), registram-se afirmações fortíssimas de Paulo, radicalmente contrárias ao entendimento de que a salvação divina do homem tenha um caráter de exclusivismo fatalista. Haja vista às seguintes:

“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18).

“Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar  de misericórdia” (Rm 5.18).

E aqui se faz oportuno lembrar-se uma sensata colocação de Agostinho, em “De doctrina christiana”: qualquer interpretação feita de certa parte de um texto poderá ser aceita se for confirmada por outra parte do mesmo texto, e deverá ser rejeitada se a contradisser (apud ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação, 2001).

Na verdade, o que precisamos é discernir os dois sentidos bíblicos concernentes à predestinação: o que se refere à salvação dos que, livremente, optaram por ela, designados como os “dantes conhecidos por Deus” (Rm 8.28-30), e o que se refere à missão confiada por Deus a alguns, em favor de outros ou dos outros. Este último, sim, liga-se à predestinação como escolha específica feita por Deus, distinguindo homens e mulheres, para a execução de tarefas especiais em sua obra.

É nesse segundo sentido, integrante do conceito de predestinação, nas Escrituras, que se coloca, por exemplo, a palavra do Senhor, dirigida ao profeta Jeremias: “Assim veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Antes que te formasse no ventre, te conheci; e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações  te dei por profeta” (Jr 1.4-5).  É aqui, também, que se enquadra a declaração de Jesus a seus discípulos: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós; e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15.16).

Com efeito, foram aqueles discípulos escolhidos para, à exceção de Judas Iscariotes, estabelecerem os fundamentos da Igreja de Cristo na terra. E nisso consistiu o fruto permanente da produção espiritual deles. Não se tratou, pois, de uma escolha para a salvação, mas para o serviço na seara de Deus.

É a Verdade o que temos buscado. Tão somente! E, sem a mínima pretensão, disponibilizamos, aos que quiserem, o texto maior, com o detalhado entendimento que julgamos ter alcançado a respeito do assunto aqui exposto.

Referências bíblicas: Bíblia Sagrada. Trad. em port. por João Ferreira de Almeida. São Paulo: Scripturae, 2004.

(Maria Helena Garrido Saddi, professora universitária, doutora em Letras, membro da Catedral Evangélica Hebrom, e-mail: hgsaddi@gmail.com)

Fonte: DM

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